quinta-feira, 7 de maio de 2015

UFMG - Fafich pretende fechar diretório acadêmico

Dez medidas foram aprovadas nesta segunda para tentar melhorar a segurança após denúncias de tráfico

Ato. Como os alunos não puderam acompanhar a reunião da Congregação, muitos protestaram com cartazes e balões em formato de coração.

O Diretório Acadêmico (DA) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) será fechado por pelo menos seis meses. A decisão foi tomada nesta segunda durante uma reunião da Congregação da Fafich, uma espécie de conselho deliberativo. Outras nove medidas foram aprovadas, dentre elas a proibição de festas no local e a pintura do prédio. Essas ações foram discutidas a partir de relatos de violência como furtos, assédio a mulheres e tráfico de drogas devido à falta de segurança nas dependências da faculdade. Participaram da reunião alunos, professores, servidores e a direção da Fafich.
Os alunos presentes disseram que entendem e concordam com a necessidade de reforçar a segurança no prédio. No entanto, não são favoráveis ao fechamento do DA. Segundo o estudante Evandro Luis, 22, o ideal seria ocupar esse espaço, e não retirar as pessoas de lá. “Quando a universidade não oferece integração a essas pessoas de fora, elas vão se integrar de outra forma. Esses meninos que têm vindo para cá, alguns de periferia, já tiveram todas as portas fechadas na vida. Vamos fechar mais uma?”, questiona.
Em nota, a UFMG informou que as medidas são para garantir a segurança na Fafich, combater o tráfico de drogas, o assédio e a depredação do patrimônio público. A Congregação assegurou, ainda, a manutenção do calendário acadêmico para todos os cursos. Além disso, segundo a universidade, a decisão de fechar o DA é temporária, já que o local deve passar por uma revitalização e ser levado para uma área mais visível do prédio.

Ocupação. Durante a manhã desta segunda, cerca de cem alunos aguardaram o fim da reunião em uma manifestação pedindo mais inclusão para quem não é da comunidade acadêmica e uma segurança treinada e mais humanizada. Eles querem ainda a criação de projetos para os jovens que têm frequentado a faculdade.

Uma estudante, que preferiu não ser identificada, informou que os integrantes do movimento estudantil estão se mobilizando com outras entidades ligadas a causas sociais para pensar em uma política de inclusão voltada a esse público, que pode oferecer debates, palestras e outros tipos de trabalhos no próprio espaço acadêmico.

Devido à reunião, muitos professores da Fafich liberaram seus alunos para acompanhá-la, mas hoje as aulas serão retomadas, inclusive as do curso de história, que foram suspensas na última sexta-feira.

Em protesto

Manifestação. A reunião aconteceu a portas fechadas e só tiveram acesso os membros da Congregação da Fafich. Para pressionar a entidade, alunos se reuniram na porta da sala, todos com cartazes, balões e adesivos de coração no rosto. A maioria dos cartazes chamava atenção para a necessidade de pensar uma forma menos excludente de lidar com o problema e que não reforce preconceitos. Nesta segunda à noite, as portas do DA foram arrancadas. A reportagem tentou contato com a assessoria da UFMG para repercutir o caso, por volta das 19h30, mas ninguém atendeu a ligação no celular de plantão.

Posição. Durante o dia, a reitoria da UFMG informou apoiar a Fafich e as medidas aprovadas pela Congregação.

Confira um fragmento da nota do diretório acadêmico da FaFich emitida na manhã desta segunda.

"Acerca da venda de drogas na universidade, acreditamos que é algo antigo, e camuflado quando feito por estudantes. Essa não é uma questão que cabe apenas a universidade, mas deve ser um debate da sociedade visto que o Estado falha ao acreditar que política de drogas se faz com bala. Problemas como assédio às mulheres, perseguição à LGBTs e a negros e negras são frequentes e sempre aconteceram no âmbito universitário, e a Universidade sempre os suprimiu, se omitiu e poucas vezes os puniu. Denúncias essas que não são dirigidas somente ao público externo, mas principalmente a professores, técnicos e estudantes.

É surpreendente que a pauta de Segurança seja colocada somente após a presença desses jovens negros e da periferia no campus. Há anos estudantes denunciam os problemas de segurança e sucateamento, em especial na FAFICH. A Faculdade não nos oferece iluminação adequada, salas de aulas equipadas ou mesmo materiais básicos de limpeza e higiene. O campus da UFMG também é mal iluminado, a guarda universitária é mal formada e é dirigida a proteger o patrimônio ao invés das pessoas. Esses problemas são anteriores aos cortes de verba pelo Governo Federal e demonstram o descaso da UFMG com os/as estudantes, em especial com a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH).

O Diretório Acadêmico Idalísio Soares Aranha Filho (D.A FAFICH), entende que o espaço pertence a toda sociedade, e nessa perspectiva, vem elaborando diversas iniciativas que buscam o aproveitamento e a inclusão das pessoas. A promoção da cultura também é buscada, e a intervenção nas paredes do D.A. é tida como um ato cultural e de resistência. A UFMG como espaço público deve manter as portas abertas à toda comunidade e estar integrada à cidade. Deve promover ações de ocupação com inclusão, garantir estruturas materiais para o uso desses espaços e a formação de uma Segurança Universitária humanizada que seja dirigida às pessoas. Um debate comprometido que envolva todos/as é o primeiro passo a ser dado agora”.

Fonte: http://www.otempo.com.br/cidades/fafich-pretende-fechar-diret%C3%B3rio-acad%C3%AAmico-1.1017089
PUBLICADO EM 30/03/15

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