Denis Casagrande foi assassinado durante festa no campus de Campinas.
Segundo delegado, 5 pessoas participaram do crime em 21 de setembro.
A Polícia Civil de Campinas (SP) responsabilizou cinco pessoas pelo assassinato do estudante da Unicamp Denis Casagrande e afirmou, durante anúncio do esclarecimento do caso nesta quinta-feira (3), que a vítima foi morta por engano. Entre os cinco responsáveis apontados no inquérito, há dois menores de idade, que teriam participado do linchamento do rapaz. Dois suspeitos já estão presos e a prisão e apreensão dos outros três será pedida até o fim da próxima semana.
Segundo o delegado Rui Pegolo, o aluno da engenharia mecatrônica esfaqueado durante a festa dentro do campus foi confundido com outro jovem que teria assediado Maria Tereza Peregrino, de 20 anos, que é integrante de um grupo autodenominado “anarcopunk”. Ela confessou ter dado a facada em Casagrande, mas alegou legítima defesa e disse ter sido agarrada pelo estudante. A versão foi rechaçada pelos investigadores após análise de provas e oitivas com testemunhas.
Maria foi indiciada como autora do crime, e o namorado dela, Anderson Mamede, como coautor, já que ele admitiu ter agredido com golpes de skate a vítima, quando ela já tinha sido atingida pela faca. Os dois já estão presos temporariamente desde a última sexta-feira (27). O jovem André Ricardo de Souza Motta, de 22 anos, que foi indiciado na manhã desta quinta, também é apontado como coautor e terá a prisão solicitada pelo delegado do caso. Nenhum deles é estudante da Unicamp.
"Embora a facada tenha sido dada por Maria, nós entendemos que as agressões dos outros envolvidos impediram que testemunhas chegassem até Dênis, que estava esfaqueado, para socorrê-lo. Além do linchamento, havia punks ao redor da vítima rodando correntes para impedir a aproximação das pessoas.", conta Pegolo.
15 minutos de linchamento
Segundo o delegado, laudos e testemunhas comprovam que Maria foi a autora da facada. Ela também é acusada de incitar o grupo de pelo menos 30 amigos a agredir a vítima, afirmando que Casagrande a teria assediado enquanto ela urinava em um banheiro improvisado, nas imediações da festa.
Testemunhas protegidas, entretanto, convenceram a polícia de que o assédio a ela foi apenas verbal, em tom de brincadeira, e foi cometido por dois joutros ovens que passavam pelo local, mas sequer estavam juntos da vítima.
“De fato, quando Maria estava urinando, duas pessoas passaram por ela e mexeram. Mas foi um assédio comum, não foi nenhum assédio exorbitante. Maria revoltou-se e imputou ao Denis, que também estava urinando, a autoria deste assédio.”, disse o delegado. Pegolo explica que a Polícia apurou, ainda, que a vítima teria tentado explicar o que ocorreu, mas não foi ouvido por Maria, que acionou os colegas e iniciou um linchamento que durou até 15 minutos.
Punição
Os três suspeitos maiores de idade responderão por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil com o agravante de terem impedido a defesa da vítima. Caso condenados, a pena pode variar entre 12 e 30 anos. Já os dois adolescentes, de 15 e 16 anos, respondem por ato infracional análogo a homicídio e também deverão ser recolhidos em uma unidade da Fundação Casa. No caso deles, por terem menos de 18 anos, caso fique comprovada a participação no crime, a pena não pode passar de três anos.
Arma do crime
A arma do crime, uma faca de aproximadamente 15 centímetros, foi exibida pela Polícia Civil nesta quinta e o delegado informou que o objeto agora, após reconhecimento das testemunhas, seguirá para o Instituto de Criminalística para ser periciada.
O objeto, segundo Pegolo, foi encontrado parcialmente enterrado em um ponto de ônibus próximo à Unicamp. A própria suspeita do caso, após confessar ter dado a facada contra o estudante, indicou à polícia o esconderijo da arma branca.
Pegolo explicou que o laudo do IML indicou que a facada foi desferida por um autor com altura inferior à da vítima, o que será usado como prova para incriminar Maria. Segundo o delegado, Casagrande mede 1,86 metro e a suposta autora, 1,55.
Outras vítimas
A Polícia informou que espera que, após a prisão dos envolvidos, outras possíveis vítimas do grupo apareçam para denunciar agressões. Uma jovem, após identificar o casal Maria e Anderson pela TV já entrou em contato com os investigadores, que apuram o crime de lesão corporal grave, que teria sido cometido pelos menos jovens. De acordo com Pegolo, a característica deste grupo é o uso de armas brancas e perfil agressivo de parte dos integrantes.
Defesa
O advogado Rafael Pompermayer, que defende Maria Tereza, reiterou que o assassinato ocorreu por legítima defesa e disse não acreditar que a cliente confundiu Casagrande com outra pessoa. Mamede não possui advogado, mas, antes de ser preso, entretanto, Mamede havia se defendido afirmando que o universitário “tentou agarrar ela [Maria] à força, bateu nela”.
A EPTV conversou por telefone com o terceiro indiciado, que negou ser integrante do grupo punk e afirmou não ter participado de nenhuma agressão. Motta disse que conhece Anderson, o encontrou por acaso na festa e só entrou na confusão para proteger o conhecido de agressões. "Quando eu cheguei já tinha acontecido, o rapaz já tinha apanhado", falou.
Fonte: G1